Há uns tempos atrás dizia o Mário Valente ter sido ele o inventor do Youtube. Ora, pelo mesmo tipo de raciocínio: o Ubuntu fui eu que inventei.
Em finais de 2003, estávamos a planear a nossa primeira migração para desktops Linux. O cliente era uma empresa com 20-30 PCs e na época as distribuições de Linux eram em termos de Desktop bastante toscas e mal acabadas. O problema crónico de quem fazia as distribuições, sempre foi o síndroma "everything and the kitchen sink", fazendo com que - juntamente com algumas lacunas para as quais na altura não havia resposta - o excesso de software e má integração entre componentes tornassem a utilização por parte do público real bastante penosa e o apoio técnico complicadíssimo.
Como resolvemos? Pegámos numa versão melhorada do Mandrake 9.2. Cortámos, colámos e corrigimos produzindo uma imagem de instalação automática com os componentes bem integrados e uma selecção criteriosa do software mais interessante. Uma espécie de Ubuntu... com o que que havia na época.
Quais o princípios usados neste desenvolvimento?
Less is more
Default is King
Certify or die
[Quatro anos mais tarde, ainda existem algumas máquinas a correr esta versão, que com alguns updates cirúrgicos (Firefox, Flash...) continua a mostrar-se perfeitamente estável]
Como contribuição para o projecto Mandrake, reportámos e comentámos inúmeros bugs individuais acerca da integração de componentes, sugerindo soluções, na expectativa de que as próximas versões os tivessem resolvido. Exemplo:
https://qa.mandriva.com/show_bug.cgi?id=982
Resultado: os bug reports cairam em saco roto e as próximas versões vieram com o mesmo tipo de bugs... mas em novas versões do KDE, Mozilla, etc.
Em 2006 voltámos à carga. Pegamos no Mandriva 2006 e novamente criámos um produto final.
[No fundo para nós é irrelevante se desenvolvemos sobre Debian, Mandriva ou CentOS. O que interessa é o user experience que conseguimos criar. Sempre gostámos do Mandriva devido ao excelente suporte para impressoras (Till Kampeter...), aos fabulosos repositórios PLF, ao KDE, urpmi mas....]
Corrigimos dezenas de bugs, limpámos o excesso de pacotes e testámos extensivamente até que o produto final estivesse "à prova de nabos". Desta vez, para além de reportarmos alguns bugs individuais, exemplo,
https://qa.mandriva.com/show_bug.cgi?id=26155
atacámos com um meta-bug englobando os diversos problemas de QA e sugerindo melhorias no processo:
http://qa.mandriva.com/show_bug.cgi?id=20796
Resultado: gerou-se alguma discussão no Bugzilla mas não se viram acções concretas. É curioso ver como o típico geek responsável por um componente, não tem a mínima visão de conjunto.
Não desistimos. Falamos com o CTO da Mandriva alertando-o para os factos. Em 2007 reunímos com a Caixa Mágica e o Alinex tentando sensibilizá-los para a urgência desta filosofia de desenvolvimento. Já em 2008, reunímos pessoalmente com o CEO da Mandriva que se mostrou muito interessado no que viu e contribuímos com algum QA para a release 12 da Caixa Mágica.
Mas.... entretanto já alguém, com poder ($$$) e visão tinha percebido o que era preciso ser feito. Esse alguém criou o Ubuntu. E esse mesmo Ubuntu está a obrigar as outras distribuições a verem para lá das palas. Já não é alguém isolado a tentar passar uma visão, mas sim o mercado a escolher quem faz melhor.
Tornou-se claro que não é preciso software em quantidades industriais mas sim "one tool for the job - the best available tool". Percebeu-se tudo o que faz parte de uma instalação default deve estar testado, integrado e a funcionar. Só assim se chega a um Desktop que funcione para o público final. E mesmo os geeks, que nunca foram capazes de identificar este tipo de necessidades, acabaram por reconhecer a sua importância e ajudar ao estrondoso sucesso do Ubuntu. E o mais interessante é que este tipo de quality assurance desktop, nem sequer é especialmente difícil nem demorado. Apenas requer uma sensiblidade diferente daquela que o típico developer geek tem. Requer que se entenda como pensam os utilizadores finais. E é por isso que anos e anos de excelência Debian, não conseguiram por si só conduzir a este resultado.
Lembro-me de em 2001, comentar com uma das pessoas da linha da frente do Linux em Portugal, que as distribuições deveriam chegar a acordo sobre "o kernel do ano" e alinhar as versões outros componentes críticos, para facilitar a integração de sofware de terceiros. Na altura a ideia foi recebida com cepticismo.
Passados 8 anos, o que diz Shuttleworth?
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