Talvez tenha reparado quem recebe por RSS os artigos deste blog que últimamente não tem cá aparecido muita coisa. O que se passa é que o tempo que habitualmente sobra para reflexões e partilha de ideias com a comunidade tem sido ultimamente consumido, perdão vorazmente canibalizado, por uma onda da mais gritante incompetência. Dir-se-ia que neste país ser profissional é opcional.
Vejamos... nos últimos dois meses já tivemos: comunicações interrompidas por causa da chuva (a infra-estrutura não está preparada porque só este inverno é que choveu), jogo do empurra-empurra entre um ISP e o operador incumbente com um problema de packet loss que aparentemente só o cliente é que tinha capacidade de monitorizar (demorou mês e meio a ser resolvido), uma linha ADSL + Voz em que a Voz está há dois meses com ruído extremo e o ISP não resolve, um equipamento que o ISP garantiu fornecer em bridged mas afinal não suportava bridged ao qual se seguiu um segundo equipamento que - esse sim - viria em bridged mas afinal também não vinha, um conjunto de novas impressoras iguais todas, excepto uma, a funcionar bem em que a marca não recebe a impressora defeituosa se o cliente não fizer alterações no firmware (!) e até o upgrade de um ERP a correr da pior maneira possível: tudo ficou lento após o upgrade e o fornecedor atirou as culpas precisamente para aquilo que não tinha mudado, ie, a rede e o servidor.
E o que é que faz uma equipa competente nestas situações? Tenta não perder a paciência. Tenta absorver todos estes impactos e almofadar o cliente, isolando-o da incapacidade generalizada que se instalou no nosso país e continua a "atrapalhar" impunemente tudo e todos. Tenta que o cliente consiga sobreviver o melhor possível. Mas com este (mau) ambiente de trabalho torna-se muito, muito mais, difícil manter os níveis de eficiência que os profissionais devem exigir de si mesmos. Este ambiente é o travão da inovação, um balde inteiro de areia vertido descaradamente sobre as melhores engrenagens.
É tentador para muitos atribuir isto à falta de meios e aos problemas económicos do país, etc, etc. Ora isso é a mais evidente falácia. O país tem excesso de meios tecnológicos e poder económico mais do que suficiente para olear a maioria dos serviços. A dura e politicamente incorrecta realidade é que o estado das coisas se deve aos seres humanos que desenham, participam e implementam os processos. Será que é por falta de CRMs (até os há Open Source..) que os ISPs só tratam dos assuntos por telefone? Será que é por falta de software de monitorização (também os há Open Source...) que não conseguem compreender problemas intermitentes? Será por falta de vergonha que um fabricante acha normal mandar um cliente fazer upgrades de firmware numa impressora avariada que custou algumas centenas de EUR?
Não há mais ninguém a culpar: são compatriotas nossos - portugueses - que originam e perpetuam este estado das coisas. Culpado, é quem contrata pessoas para funções alegadamente "simples" e não lhes dá formação. E quem é contratado e não quer aprender.
Mas a solução é simples: dar formação aos interessados e despedir os desinteressados. A quem não sabe trabalhar não se dê hipótese de atrapalhar.
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5 comentários:
Na realidade a política (idiota) do querer comprar "garantias" e "suporte" e "a quem apontar o dedo em caso de falha" é a grande culpa disso.
De tanta porcaria em tanta porcaria a dar asneira aqui e ali, as infra-estruturas de TI nas grandes empresas portuguesas não passam de uma manta de retalhos de culpa, caspa e água sacudida do pacote.
Mas depois a informática é um empecelho. Não ajuda. Está sempre a avariar.
Eu cá ando *tão* farto desta mentalidade pequena... pequenina e mesquinha...
E que tal software que funciona? No cérebro também, já agora...
O suporte e as garantias são bons e necessários. O que não funciona é o software das pessoas!
Com tudo (ou quase) é mal documentado e com o código fechado e com a cadẽncia "normal" de falências, lá se vai andando de bloqueio e incompatibilidade em bloqueio e incompatibilidade até que tudo encrava.
Eu também concordo que a política das "garantias" e do "suporte" não garantem coisa nenhuma. No que toca a software só código aberto e bem documentado poderão dar alguma ajuda mas nem isso resolve tudo.
E se disseres a qualquer ISP neste país que tens Linux então eles nem perguntam mais nada... a culpa é DE CERTEZA da configuração do Linux e o tipo que lá no Call Center sabe disso nunca está.
Ridículo! Mas o que se pode esperar quando a assistẽncia técnica foi delegada em pessoas que a maior parte das vezes mais não sabem do que seguir um questionário que têm no seu terminal?
O mal deste país é que se quer ganhar tudo e nada gastar. E como a Justiça funciona como funciona e a impunidade é total pouco há a fazer.
Já perdia conta às reclamações que fiz para o Banco de Portugal, Insitituto do Consumidor, Provedor de Justiça, etc, etc, etc.
E se disseres a qualquer ISP neste país que tens Linux então eles nem perguntam mais nada... a culpa é DE CERTEZA da configuração do Linux e o tipo que lá no Call Center sabe disso nunca está.
Se estás a falar da Telepac ou da Zon, I know the feeling. Os restantes não estão a esse nível da idiotice no call center.
Mas todos, sem excepção, têm problemas graves de logística e défices de formação preocupantes.
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